quarta-feira, 11 de junho de 2008

Baudelaireando


É preciso estar sempre embriagado.

Eis aí tudo: é a única questão.

Para não sentirdes o horrível fardo

do Tempo que rompe os vossos ombros

e vos inclina para o chão, é preciso embriagar-vos sem trégua.

Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude,

à vossa maneira. Mas embriagai-vos.

E se, alguma vez, nos degraus de um palácio,

sobre a grama verde de um precipício,

na solidão morna do vosso quarto, vós acordardes,

a embriaguez já diminuída ou desaparecida,

perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro,

ao relógio, a tudo que foge, a tudo que geme,

a tudo que anda, a tudo que canta, a tudo que fala,

perguntai que horas são; e o vento, a onda, a estrela,

o pássaro, o relógio, responder-vos-ão:

'É hora de embriagar-vos! Para não serdes

os escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos:

embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude,

à vossa maneira'