quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Entre tantos

De todos
Ditosos
amores e amantes
o mais possível e improvável
que me chama e me ama
mais

Sem regras nem pedras
no caminho
canto tonto de encanto
espera mais cedo
para que eu possa partir
e voltar

Ele é lindo
Ele chora
Gosta de gatos
e de auto-retratos
do cheiro de nitrato
na foto e no filme

Umidamente, de
repente
me revela e
me encerra
num porta-retrato seu

Segundas
intenções
às terças e quartas
no quarto
no domingo
dormindo

É quem veio
me trazer (e
me levar?)
a vida que me cabe
e espero há tanto
poder

Nesse cromo positivo
do negativismo
de todo meu ser

Se uma parte de mim
me falta
a outra
parte de mim
e não me falha

domingo, 28 de outubro de 2007

Produto de um Jogo Surrealista de Entretenimento

Era uma tarde fria no inferno, eu não tinha nada além da minha cartola e um encarte de vinil do Dark Side of the Moon, que coloquei sob uma lareira e tudo então foi ficando quente, e virando céu. Lembrei-me de um céu que já não existe mais, o de nuvens pálidas que hoje estão cinzas da fumaça que sai a cada piscar de olhos do meu cachorro. Foi então que, sem céu nem inferno pra habitar, caí, caí, caí... até mergulhar numa coisa líquida, viscosa e antiga.
Para esquecer o que realmente eu não tinha, fui me misturando a esse licor que descia pelo ralo da pia e do sangue umbilical me desvinculei, posto que era dia. Comi uma maçã que tinha mais gosto de pena que de carne, peguei meu guarda-chuva para atirar folhas secas no banco de arquitetura mal feita, tão bela quanto minha mão quando fica roxa.
Reuni todas as minhas forças e toda minha coragem, e gritei a única palavra que nunca tinha ousado dizer durante todo esse tempo: colher! E há tempos não grito flores, do mesmo modo que não entrego flores ao tempo. Que se crie um laço entre o tempo e a flor, e continuarei gritando.
Devo pular ou me empurrem então, tão direto do chão ao salgueiro. Dançarei minúcias e reminiscências naquele sombrio solar de escadas rolantes, pérolas fruta-cor comestíveis. Um coração parasita a me guiar pelo algodão denso de chumbo e serragem, no país das dores da paz.


(Por Bruno Ferreto, Daniel Faiad e Lidiane Ester)

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Fotografianismos

Enquanto beijava suas maçãs encharcadas
Ela desejava sua língua rosa, nua e crua
Rastejando o seu corpo inteiro
Como se fosse a lei de sua boca
A mais justa de todas as coisas
Perpetuando... ando

Condena pois o que digo
E não sigo

Não minto
E que finjo

Que grito

Grito sujo
E grito seco sem voz