terça-feira, 8 de julho de 2008

Com o coração amarelo que ganhei de presente,

De vez em quando sou feliz!,
opinei diante de um sábio
que me examinou sem paixão
e demonstrou que eu estava errado.
Talvez não havia salvação
para meus dentes avariados,
um por um se extraviaram
os fios de minha cabeleira,
melhor era não discutir
sobre minha traquéia cavernosa,
enquanto o sulcado coração
estava cheio de advertências
como o fígado tenebroso
que não me servia de escudo
ou este rim conspirativo.
E com minha próstata melancólica
e os caprichos de minha uretra
me conduziam sem apuro
a um analítico final.
Olhando cara a cara o sábio
sem decidir-me a sucumbir
mostrei-lhe que podia ver,
palpar, ouvir e padecer
em outra ocasião favorável.
E que me deixasse o prazer
de ser amado e querer:
procuraria algum amor
por um mês ou por uma semana
ou por um penúltimo dia.
O homem sábio e desdenhoso
olhou-me com a indiferença
dos camelos pela lua
e decidiu orgulhosamente
olvidar-se de meu organismo.
Desde então não estou seguro
se eu devo obedecer
a seu decreto de que eu morra
ou se devo sentir-me bem
como meu corpo me aconselha.
E nesta dúvida não sei
se dedicar-me a meditar
ou alimentar-me de cravos.

[ Sin embargo me muevo, de Pablo Neruda ]

sexta-feira, 4 de julho de 2008

... pelo olhar de Daniel Faiad

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Releitura: A Moreninha

Para o acaso,

“pode ser também num posto de gasolina
loja de conveniência, muito justo esse nome
pra quem quer salvar as aparências...”

Para o descaso,

“você não se esqueceu de mim
eu que sai
sai da sua mente, deliberadamente...”

Para o que passou e passou,

“você tinha tudo pra ser minha fonte de inspiração
e virou a canção das escolhas erradas...”

Para o que passou e ficou,

“lembra aqueles dias em que só chovia
a tempestade que nos envolvia
sinto falta desses dias
em que só queria calmaria...”

Para o que ficou e passou,

“tu que já foste a primeira
síntese de uma espécie inteira
que fazes agora nessa banheira...”

Para o que ficou e ficou,

“todo dia imagino um dia incerto
pra você fazer o que é certo
me abraçar apertado e ficar tudo acertado
e ficar tudo mais perto...”

Para o que virá,

“adeus coisas que nunca tive
dividas externas, vaidades terrenas
lupas de detetive, adeus
coisas ao leo...”