segunda-feira, 16 de junho de 2008

Almofadas, cigarros e alguns quilos de sal

Há três anos estavam juntos. Dois deles morando juntos. No começo de tudo, o processo cativo, a identificação. Os sintomas. O pedido, sem prolongas. Os beijos, o sexo. As músicas, os filmes, os bares. Os amigos, as viagens, caminhadas a dois, os braços dados, as conversas. Não gostavam de tudo na mesma proporção, não gostavam das mesmas coisas, sempre. Gostavam de muitas coisas que o outro gostava, e de muitas outras só porque o outro gostava. Vieram as brigas e os defeitos, e o amor cresceu. Um tempo depois vieram mais brigas, mais defeitos, o ciúme, as contas, obrigação e intimidade, os mimos, as manhas e as diferenças da criação familiar; a liberdade, o mau humor pela manhã. Era o ápice do sentimento, o grau mais elevado do amor, onde se sabiam por completo. Eles já não tinham reservas, não tinham mais defesas. Então veio a posse, o cansaço, a invasão, as brigas e os defeitos se tornaram maiores que o amor maior, que apesar de tudo, ainda existia, insuficiente. Conversaram uma noite toda, sem choro, sob uma luz fraca, fumando e bebendo, sabe-se lá o que. Assim que terminaram, ele foi embora, caminhava com as mãos no bolso, pensando longe. Ela deixou-se cair encostada ao balcão da cozinha, e abraçando os joelhos, veio o dilúvio.